TAMBORES E TOCADORES – PARTE II – O TOCADOR
É chegada a hora, então adentram o salão os tocadores, alinhados em seus ternos brancos, saúdam os tambores sagrados e tomam suas devidas posições. Aquele que se apossa doRum chama-se Alagbe é o mais alto dignitário entre os tocadores, encarregados da orquestra do candomblé e personagem da maior importância na hierarquia da casa. Seu primeiro imediato o Òtun Alagbe se apossa do Hum-pi e seu segundo auxiliar o Osi Alagbe do Le este é considerado o novato do grupo e só pode tocar o tambor menor, e o médio, sendo-lhe vedado tocar o tambor mestre, pois este que lidera a orquestra e só um tocador reconhecidamente competente poderá tocá-lo. Teoricamente só o Alagbe poderá tocar o Hum, mas o mais graduado de seus dois assistentes o Òtun Alagbe este sendo o mais preparado poderá substituí-lo por ocasião de seus impedimentos. Este chefe tem a obrigação de treinar o seu substituto eventual, deixando o preparado para tocar os ritmos mais complexos e difíceis.
O Alagbe considera-se uma figura dominante no barracão e sua autoconfiança, a certeza de que, muito do que ali esta se passando, depende de sua técnica, de seu saber em convidar os Òrìsà, com propriedade, sobretudo com energia e segurança. Suas funções não se limitam em apenas tocar e cantar, ele é responsável pelas cerimônias destinadas aos tambores, conservação e preservação destes sagrados instrumentos.
A etimologia da palavra Alagbe é totalmente obscura. Sabemos apenas que Alá é um substantivo e empregado como prefixo de um verbo, equivalente a Oní = aquele que tem. Não sabemos ao certo se a palavra gbe seja a forma contraída de duas ou mais palavras. Alguns estudiosos citaram que a palavra Alagbe interpreta-se como o “Pai da Comunidade, baseando-se na palavra egbé (sociedade, associação, corporação; fraternidade) o que esta fora do consenso lógico, pois esta palavra trata-se de um substantivo e sua fonética é totalmente distinta e como sabemos no idioma Yorùbá Pai é denominado de Baba. O mesmo interpretação errônea ocorre para a tradução ”Aquele que possui a cabaça” sustentando-se na palavra agbè (vaso de beber, cabaça perfurada no topo como um cântaro) outro substantivo e não verso; e quando esta se referindo ao Agbè em forma de instrumentos musical utilizado no culto a Divindade Òsún, não é o Alagbe que o faz e sim um homem com posto na Casa-de-Òsún.
Durante todo do decorrer da cerimônia podemos notar crianças e jovens ao lado do estrado dos atabaques, acompanhando os ritmos do toques e das cantigas. Alguns destes meninos se tornarão futuros tocadores. A tradição reza que seu treinamento deva ser desde muito cedo a esta difícil arte de tocar os tambores. Geralmente filhos de tocadores ou de iniciadas no Terreiro, mostram-se interessados na aprendizagem das cantigas e da percussão. Muitos são incentivados e orientados para um dia ocuparem um lugar na hierarquia do grupo. Em tempos atuais “os rapazes de hoje” não se sujeitam à orientação, como os antigos tocadores se submeteram quando jovem, a fim de se tornarem tocadores à altura das tradições da sua casa de culto. Hoje em dia, corrigir ou se quer querer orientar um ritmo inadequado é motivo de desavença, intrigas e brigas. Procedente ou não, a queixa confirma a observação de que o tocador não se improvisa, só podendo distinguir os que treinarem adequadamente.
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