MÚSICA E DANÇA — OS OGANS
Toque de Candomblé é o mesmo que festa, pois se refere às batidas
dos atabaques, que possuem uma variedade significativa de ritmos identificados com a
necessidade do momento. São mais de 15 ritmos diferentes, acompanhados de cântico
ou não. Esses toques têm o poder de entrar em sintonia com o Òrìsà, pois fornecem
elementos como gestos e movimentos do corpo que entram em afinidade de forma
irresistível.
As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência de
danças, em que, um por um, são honrados todos os Òrìsà, cada um se manifestando no
corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando
nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos
e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa
seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores (chamados rum, rumpi e lé)
é designada sirè, que em iorubá significa "vamos dançar". O lado público do
candomblé é sempre festivo, bonito, esplendoroso, esteticamente exagerado para os
padrões europeus e extrovertido.
Para a realização da festa, que será movimentada por cânticos e
danças, são necessárias as presenças dos Ogans, que tocarão os instrumentos musicais,
os quais, de marcarem o ritmo, são os responsáveis pela vinda dos Òrìsà com cânticos
apropriados. Nos Candomblés existem os cânticos que são entoados com os Òrìsà
manifestados e outros não.
Os atabaques são tocados por Ogans confirmados da Casa ou por
visitantes importantes, merecedores de homenagens especiais.
Os atabaques são instrumentos sagrados que passam por rituais de
iniciação e recebem obrigações como verdadeiras divindades. São devidamente
paramentados com Òjà da cor do Òrìsà homenageado ou na cor branca. São em
número de 3, e, de acordo com a nação seguida pelo Candomblé, tomam nomes
diferentes, do maior para o de menor tamanho, cada um com som diferenciado, de
acordo com o tipo de toque ou com o tipo de som que queiram dar, percutidos com as
mãos ou com varetas de madeira:
Nação de Candomblé: Kétu Jeje
Atabaque maior Ìlù Hun
Atabaque médio Ìlú Òtún Humpi
Atabaque menor Ìlù òsì Le
Varetas Àtòri Agidavi
Campânula de metal Àgògo Gán
O maior dos três atabaques utilizados é o mais destacado, não só pelo
seu tamanho, mas pelo que ele realiza. Ele é o solista, marcando os passos da dança com
repiques e floreios. Só os mais experientes podem tocá-lo, e, na escala do aprendizado,
ele é o último a ser percutido por quem deseja aprender a tocar, porque devem conhecer
os momentos para os repiques que irão permitir que o Òrìsà, dançando, realize as
variações nos movimentos que lembrarão as ondulações das águas de Òsun, as lutas e
agilidade de Ògún e Sàngó, o ato da caça de Òsóòsì, o ninar da criança de Nàná, a
extensão e beleza do arco-íris de Òsùmàrè, o baçançar das folhas ao dançar com uma
perna só por Òsányín ou o pilar do inhame por Òsàgiyán. Os atributos míticos dos
Òrìsà são revelados desta forma.
É ele, ainda, que “dobra o couro”, avisando da chegada de visitantes
ilustres, mudando o ritmo do momento, para um bater descompassado. Os dois, o
intermediário e o menor, fazem o fundo sem variações maiores. É por eles que se
começa o aprendizado e o desenvolvimentos do dom natural de tocar e memorizar.
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